CAPÍTULO 10 : O POLVO
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje, deixemos as serpentes em suas ilhas malditas e voltemos o olhar para os mistérios do fundo do mar — onde espreita uma criatura que parece feita por mãos de deuses brincalhões ou por bruxas que perderam a noção das formas. Falo do polvo, meu caro. Esse bicho dos oito braços e mil segredos, que vive entre as rochas e corais como se fosse o próprio espírito do oceano, disfarçado de carne, tinta e astúcia.
Dizem os velhos do porto que, se tu vês um polvo te olhando, não é ele quem está perdido — és tu.
O Senhor dos Tentáculos
Nome científico: Octopus vulgaris, embora muitos parentes andem por aí com nomes mais difíceis que feitiço de necromante.
Número de braços: Oito — cada qual com vontade própria, ventosas traiçoeiras e força de prender até marinheiro fujão.
Coração: Três. Um que empurra o sangue pelo corpo, e dois que cuidam das brânquias. Quando o polvo nada, esses dois descansam.
Sangue: Azul como céu de inverno, por causa da hemocianina, um troço que carrega o oxigênio melhor nas águas frias do abismo.
Cérebro: Um central e outros espalhados pelos braços — um conselho de mentes trabalhando em conjunto, como um reino de feiticeiros onde cada braço é um mago.
Onde Habita o Encantado
O polvo não tem morada fixa, mas prefere as águas salgadas e mornas do Atlântico, do Pacífico, dos mares do sul e das enseadas escondidas entre os rochedos. Vive em tocas que ele mesmo ajeita com pedras, conchas e areia — uma fortaleza pequena, mas bem guardada.
Quando ameaçado, não levanta espada. Lança tinta. Uma nuvem escura, como as trevas que cobrem um campo de batalha antes do trovão. Escapa rápido, muda de cor, vira pedra, vira sombra. É mestre da ilusão, um ilusionista com guelras.
Curiosidades que Valem um Gole de Hidromel
– Pode passar por aberturas do tamanho de uma moeda, contanto que sua cabeça — chamada de manto — caiba. Não tem ossos. É um espírito molhado.
– Vive de caça: caranguejos, peixes, moluscos. Mas não caça com pressa. É paciente como monge em meditação, esperando a hora certa pra lançar o bote.
– É dos bichos mais inteligentes do mar. Resolve quebra-cabeças, abre potes, aprende com erros. Já ouvi história de polvo que fugiu do aquário, cruzou o chão úmido e voltou pro mar enquanto os homens dormiam de boca aberta.
– Vive pouco. Um ou dois invernos, às vezes três. Mas nesse tempo faz mais do que muito nobre fez em toda uma linhagem.
A Lenda da Mãe das Profundezas
Contam os antigos que há um polvo tão grande nas profundezas do oceano que suas ventosas seguram navios, e seus olhos veem o que há por trás das marés. Chamam-no de Kraken, mas vai saber se é nome ou aviso. O que se sabe é que, quando as ondas se revoltam de súbito, os mais supersticiosos não culpam o vento — culpam o polvo que sonha debaixo das águas.
A Magia da Camuflagem
Os polvos são metamorfos natos. Mudam de cor e textura num piscar de olhos. Pele que vira coral, alga, rocha. Tudo comandado por músculos na pele, como se carregassem um encantamento vivo sob o couro.
Isso não é truque — é sobrevivência. Um polvo camuflado não é visto. E se não é visto, não morre. Simples assim.
A Morte Solitária
Quando um polvo macho encontra a fêmea e cumpre o dever da vida — que é gerar outro polvo — ele morre. E a fêmea? Também. Cuida dos ovos até o fim, sem se alimentar, vigiando os futuros tentáculos até que seu corpo desfaleça como vela esquecida no altar.
É um amor breve, mas eterno — desses que fazem poetas chorarem e bardos cantarem por três luas.
E no Final…
O polvo é um espelho da natureza: belo e bizarro, simples e engenhoso, frágil e letal. Não tem ossos, mas tem força. Não fala, mas ensina. Não vive muito, mas deixa marcas.
Então, se algum dia cruzar teu caminho com esse ser de braços encantados, não tema — apenas observe. Há mais sabedoria em seus olhos do que em muito rei com coroa na cabeça e vazio na alma.
Agora beba, meu amigo, e brinde comigo aos seres do abismo. Porque até no fundo do mar, há histórias que merecem ser contadas à luz de velas e ouvidas com o coração aberto.
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HORA DE PROVAR SUA BRAVURA
Você mergulha em águas turvas atrás de um tesouro afundado.
Algo te envolve o tornozelo —
forte, gelado, cheio de ventosas.
Sem ar, sem luz… e o polvo te encara — jogue o D20.