CAPÍTULO 27: PLATÃO
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje falaremos não de monstros ou mapas encantados, mas de um homem cuja mente brilhou mais que muitos reinos: Platão, o sábio que viu além do véu do mundo.
Nasceu por volta de 428 invernos antes de Cristo, em Atenas — cidade das musas, das lanças e das ideias. Seu nome de nascimento era Aristocles, mas ganhou o apelido Platão, que significa “ombros largos” em língua antiga. Uns dizem que era por causa de seu físico, já que treinava como lutador nos jogos do ginásio; outros, que foi por causa da vastidão de seu pensamento, que abrangia o mundo inteiro com facilidade de tempestade.
Seu sangue era azulado pelos padrões de Atenas: descendente de nobres, guerreiros e até de um certo Solon, o legislador. Mas sua maior herança não foi o ouro — foi a inquietação de espírito.
O Encontro com o Mestre: Sócrates
Como todo bom herói das ideias, Platão teve um mestre. E que mestre! Sócrates, o velho pensador que preferia perguntas a respostas, foi o sopro que acendeu sua chama interior.
Platão era apenas um jovem quando começou a seguir aquele homem feio e descalço pelas ruas de Atenas, ouvindo-o questionar generais, poetas e mercadores como se fossem aprendizes. Com Sócrates, Platão aprendeu que não saber é o primeiro passo para o verdadeiro saber.
Mas essa história não termina bem. Sócrates foi condenado à morte por “corromper a juventude” e “desrespeitar os deuses”. Foi forçado a beber veneno, e Platão, destroçado, viu ali a falência da política e da justiça de sua terra natal. Esse luto moldaria toda sua obra.
Curiosidade ao pé do fogo: Platão ficou tão impactado pela morte do mestre que decidiu jamais usar sua própria voz nos escritos. Em vez disso, criou diálogos — onde quem fala é sempre outro, muitas vezes o próprio Sócrates.
A Alegoria da Caverna: Luz e Sombra
Entre suas ideias mais encantadas, há uma que reina como rainha no trono das metáforas: a Alegoria da Caverna.
Imagina, viajante, homens acorrentados desde o nascimento dentro de uma caverna, vendo apenas sombras na parede, projetadas por um fogo atrás deles. Aquilo, para eles, é a realidade. Até que um deles se liberta, sai da caverna e vê o mundo verdadeiro: o sol, as árvores, a vida como ela é. Ao voltar para contar aos outros, é chamado de louco.
Essa história é um feitiço em forma de pensamento. Para Platão, nós vivemos nessa caverna — e as coisas que vemos são apenas reflexos do que é verdadeiramente real: o mundo das ideias, onde habita a essência de tudo.
Curiosidade ao pé do fogo: Essa alegoria influenciou não só filósofos, mas também religiosos, escritores e até cineastas. O próprio conto moderno chamado Matrix bebe diretamente dessa fonte.
A Criação da Academia: Onde as Ideias Ganham Teto
Cansado de ver a ignorância governar, Platão fundou, por volta de 387 a.C., a Academia, nos jardins sagrados de Academos, herói mitológico. Lá, ensinava que a filosofia é a preparação para a morte — não por mórbida melancolia, mas porque aprender a pensar é se desprender do corpo e suas ilusões.
Curiosidade ao pé do fogo: A entrada da Academia, segundo lendas antigas, trazia uma inscrição: “Ninguém entre aqui sem saber geometria”. A busca pelo saber exigia estrutura, disciplina e amor pelo raciocínio.
A Academia duraria quase mil anos, sobrevivendo até ser fechada por ordens de um imperador romano cristão. Um legado imenso, mais resistente que muitos castelos de pedra.
O Mundo das Ideias: Onde Tudo é Perfeito
Platão acreditava que este mundo é imperfeito — uma cópia malfeita. As coisas belas que vemos não são a Beleza em si, mas apenas reflexos dela. A cadeira em que te sentas, por exemplo, é apenas uma sombra da Ideia de Cadeira, perfeita, invisível e eterna.
Essa doutrina ficou conhecida como o Mundo das Formas ou Ideias. Nele, há a Justiça pura, o Bem absoluto, a Coragem ideal. Aqui, só temos migalhas dessas grandezas.
Curiosidade ao pé do fogo: Muitos magos, alquimistas e místicos medievais viram nesse mundo das ideias um plano superior — um tipo de céu onde as essências moram, inspirando tudo que é bom e verdadeiro.
O Amor Segundo Platão: Não é o Que Parece
Tu pensas que Platão falava de amor como nos contos de trovadores? Nada disso. Seu amor era filosófico, puro, ascendente. Era o amor platônico, como se diz por aí até hoje.
No Banquete, obra onde os sábios brindam e filosofam sobre o amor, Platão nos diz que o verdadeiro amor é aquele que começa pela beleza do corpo, mas sobe degrau por degrau até alcançar a beleza da alma, e por fim, a Beleza em si.
Curiosidade ao pé do fogo: Quando dizes que tens um “amor platônico”, estás dizendo que amas de forma ideal, sem possessão nem desejo carnal — como quem ama uma estrela, sabendo que nunca poderá tocá-la.
Legado que Ecoa Pelos Tempos
Platão não apenas escreveu — ele moldou o pensamento do Ocidente. Influenciou Aristóteles, seu pupilo, e por tabela, a Igreja, os reinos medievais, os iluministas, os revolucionários e até os sonhadores de hoje.
Curiosidade ao pé do fogo: Dele nos chegaram mais de 30 diálogos, entre os mais conhecidos estão A República, Fédon, O Banquete, Timeu e Crítias. Este último, curiosamente, é onde aparece a primeira menção à lendária Atlântida — sim, foi Platão quem lançou esse mito ao mundo.
E No Fim das Contas…
Platão era apenas um homem — mas com uma alma que tocava o divino. Suas palavras ecoam como sinos antigos nos corredores da razão. Se somos sombras na caverna ou buscadores da luz, ele não dizia o caminho exato… apenas acendia a tocha.
Então, se amanhã a dúvida assombrar teu espírito, lembra-te do velho grego de ombros largos, que nos ensinou a desconfiar das aparências e a olhar para dentro, onde talvez more o verdadeiro mundo.
Beba mais um gole, viajante. Hoje conversamos com Platão — e amanhã, quem sabe, com o próprio Sol.
Viajante ! Você esta no Capítulo 27 do nosso Grimório, caso queira voltar ao capítulo 1 vá por essa direção AQUI
HORA DE PROVAR SUA BRAVURA