CAPÍTULO 20: SONHOS
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje vamos falar de um reino que não se encontra nos mapas nem nas florestas… mas dentro de tua própria cabeça. Falo dos sonhos — esses ecos da mente que nos visitam na calada da noite, quando os olhos se fecham, mas a alma desperta e vagueia por terras estranhas. Ah, os sonhos! Mensageiros de deuses, encruzilhadas do espírito, espelhos de desejos e assombrações esquecidas. Vem, aquece as mãos neste fogo e escuta com atenção — pois o que tenho pra contar pode te acompanhar até o primeiro canto do galo.
De onde vêm essas visões da noite?
Dizem os sábios de longas barbas e olhos cansados que o sonhar começa quando o corpo repousa e o cérebro entra num transe sagrado, chamado por eles de “sono REM”. É nesse momento, quando o mundo silencia, que o espírito se solta do corpo — ao menos é o que crêem os monges dos montes longínquos — e passeia entre memórias, medos, desejos e visões.
A ciência, essa arte moderna de decifrar milagres, explica que os sonhos são teias feitas com fios da mente: pedaços de lembranças, ideias soltas, sentimentos costurados por uma agulha invisível. Mas há quem diga que vão além — que são presságios, visitas de outros planos, ou até mesmo batalhas travadas entre forças que não ousamos nomear.
Uma história antiga como o tempo
Desde os primórdios, o homem buscou entender o que se passava quando a noite caía e a mente viajava. No Egito dos tempos dourados, os faraós tinham intérpretes de sonhos — sacerdotes que liam as visões como quem decifra pergaminhos sagrados. Já na Grécia, o velho Hipnos, deus do sono, era irmão de Thanatos, o da morte. Coincidência? Talvez. Ou talvez o sono seja mesmo um primo gentil do fim.
Os babilônios escreviam sonhos em tábuas de argila. E se achavam que eram enviados por demônios ou deuses, faziam rituais, jejuavam ou acendiam incensos raros pra agradar as forças invisíveis. Sonhou com serpentes? Era sinal de cura. Com água? Transformação. Com morte? Novo começo.
No medievo, os sonhos foram perseguidos como heresia. Muitos monges viam neles armadilhas do diabo. Outros, mais sábios, anotavam tudo em diários, chamando-os de “diálogos com o espírito”. Os alquimistas, por sua vez, viam nos sonhos pistas para a Pedra Filosofal — a verdade última oculta no subconsciente.
Curiosidades para guardar junto à adaga
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Todos sonham — mesmo os que dizem que não. A mente sonha mesmo quando a lembrança se esvai ao amanhecer.
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Um sonho pode durar meros instantes, mas parecer uma saga inteira. É como se o tempo lá seguisse outro compasso, mais lento, mais profundo.
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Sonhos lúcidos — já ouviu falar? São visões onde o sonhador percebe que está sonhando. Alguns treinam isso por anos, buscando controlar os próprios sonhos como cavaleiros domam bestas selvagens.
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Existem sonhos compartilhados, segundo certos relatos antigos. Dois viajantes, dormindo sob o mesmo teto, afirmaram ver o mesmo campo, o mesmo rosto, a mesma tragédia. Coincidência? Sorte? Ou mágica antiga que ainda nos escapa?
O que dizem os estudiosos de túnica e pena?
Os mestres da mente moderna, como o douto Freud, criam que os sonhos são janelas para os desejos guardados no fundo da alma — aqueles que negamos ao sol, mas que se revelam sob a lua. Já um outro mago das ideias, chamado Jung, falava de arquétipos: imagens ancestrais que habitam todos os humanos. Assim, sonhar com um velho sábio, uma torre caída ou um corvo negro tem significados que vêm de antes de nosso nascimento.
Há até quem acredite que sonhos são o campo de testes da mente — um lugar onde treinamos respostas, enfrentamos monstros, buscamos amores perdidos, ou nos preparamos para desafios futuros.
Pesadelos — sombras que sussurram
Ah, mas nem todo sonho é banhado de ouro e poesia. Existem também os pesadelos, como cães raivosos que escapam da coleira. Acordamos suados, com o coração aos pulos, como se tivéssemos fugido de um campo de batalha. Esses sonhos escuros, dizem os curandeiros, são avisos: algo em ti está fora do prumo.
Alguns povos, como os índios dos desertos vermelhos, usam teias de penas — os sonhadores, ou apanhadores de sonhos — para filtrar as más visões. As boas passam, as más se enroscam e somem ao nascer do dia.
E então… o que são os sonhos?
São mapas? Profecias? Reflexos de nós mesmos? Talvez sejam tudo isso, ou talvez nada. Mas uma coisa é certa, meu caro: ignorar os sonhos é como ignorar uma carta enviada pela tua própria alma. Eles falam — em símbolos, em gestos, em ecos — e cabe a nós escutá-los com respeito.
Agora, me diga… o que andas sonhando?
Pois pode ser que a resposta que buscas no mundo lá fora… esteja, na verdade, escondida nas brumas do teu próprio sono.
Viajante ! Você esta no Capítulo 20 do nosso Grimório, caso queira voltar ao capítulo 1 vá por essa direção AQUI
HORA DE PROVAR SUA BRAVURA