CAPÍTULO 25: A LUA
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje não falaremos de reis coroando-se com ouro e aço, mas sim de uma rainha mais antiga que todos eles — uma senhora de prata que governa os céus desde os tempos em que os impérios ainda engatinhavam na poeira do mundo. Falo da Lua. Sim, ela mesma: a dama pálida, a sentinela dos apaixonados e dos lunáticos, que muda de rosto como uma velha feiticeira de mil disfarces.
A Lua e Suas Faces – Uma Senhora de Muitas Máscaras
Olhe bem para ela nas noites limpas, e verás que nunca se mostra por inteiro o tempo todo. Cresce, minga, se esconde… mas nunca desaparece por completo. São quatro suas fases principais: nova, crescente, cheia e minguante. Cada uma com seu humor, cada uma com seu encanto. Os antigos juravam que essas mudanças influenciavam colheitas, nascimentos, marés e até os humores dos homens. E te digo: quem já viveu sob o mesmo teto com um lunático sabe que não é só crendice de anciã.
Ficha Celeste da Lua
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Nome antigo: Selene, para os gregos; Luna, para os romanos
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Distância da Terra: Aproximadamente 384 mil quilômetros — ou 100 mil léguas, para quem prefere contar como navegante
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Diâmetro: Cerca de 3.474 quilômetros
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Gravidade: Um sexto da nossa — lá, até um velho cavaleiro se sentiria leve como um pergaminho ao vento
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Tempo de rotação: 27 dias e um punhado de horas — o mesmo tempo que leva pra girar em torno de nós
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Efeito visível disso: Ela mostra sempre a mesma face. A outra… ah, a outra é um mistério coberto de sombras
Mas… Por Que a Lua Não É Um Planeta?
Ah, essa é boa pergunta, e merece resposta digna de escriba real. A Lua, por mais majestosa que seja, não é um planeta por três simples razões que até os eruditos do castelo concordariam:
Primeiro: ela não orbita o Sol diretamente, como fazem os planetas. Não. A Lua é como uma donzela prometida — gira ao redor da Terra, sempre fiel, enquanto os dois viajam juntos em volta do Sol.
Segundo: planetas precisam limpar seu caminho, dominar sua órbita. A Lua? Não passa de um acompanhante celeste, uma estrela secundária no teatro da gravidade.
E por fim, ela não tem a realeza gravitacional de um planeta. Se fosse deixada sozinha no grande salão do cosmos, não mandaria em nada — seria levada pelos ventos solares como folha seca no outono.
Chamam-na de satélite natural, pois nasceu da própria carne do nosso mundo, numa dança violenta de fogo e rocha, quando gigantes celestes ainda duelavam nos céus. Desde então, ela nos segue. Não como súdita — mas como irmã.
O Feitiço das Marés
Ah, viajante, se achas que a Lua é só enfeite de céu, estás enganado como aprendiz diante do grimório. Ela puxa os mares como harpista hábil — suas fases comandam o sobe e desce das águas. As marés altas e baixas obedecem seus sussurros.
Velhas Superstições, Verdades e Perguntas que Ecoam
— É verdade que a Lua cheia enlouquece as pessoas?
Ora, já vi mais brigas, partos e pesadelos em noites de lua cheia do que em meses inteiros. Os curandeiros antigos anotavam essas datas com esmero. Coincidência? Talvez. Mas que há algo ali, há.
— Pode-se plantar seguindo a Lua?
Sabedoria ancestral diz que sim. Na crescente, planta-se o que cresce pra cima; na minguante, o que cresce para baixo. Muitos camponeses juram que a Lua rege o destino das sementes. E quem sou eu pra duvidar?
— A Lua tem luz própria?
Não, meu caro. Ela apenas reflete o fogo do Sol. É como um espelho de prata que guarda em si a memória do dia — e devolve ao mundo a luz suavizada, como um segredo contado em voz baixa.
— E a tal da “face oculta” da Lua?
Não é maldição, nem segredo sombrio. A Lua está acorrentada gravitacionalmente à Terra, mostrando sempre o mesmo lado. A parte que nunca vemos de cá só foi revelada com as máquinas voadoras dos novos tempos. E olha… é bem diferente. Mais crateras, mais cicatrizes. Como um rosto escondido que já viu muitas batalhas.
Curiosidades Que Vale Guardar na Bolsa de Couro
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Já pisaram na Lua. Sim, homens de carne e osso, com botas e bandeiras, deixaram pegadas lá em 1969 do calendário moderno. A poeira lunar ainda guarda esses rastros, pois lá não há vento pra apagá-los.
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A Lua já teve nomes diferentes em várias culturas: foi deusa, foi olho de dragão, foi escudo dos deuses.
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Há cavernas subterrâneas em seu interior, restos de antigos rios de lava. Quem sabe um dia sirvam de abrigo pra colonos do céu?
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E dizem que a Lua se afasta da Terra pouco a pouco — quatro centímetros por ano. Um dia, num futuro distante, poderá estar tão longe que não mais esconderá o Sol nos eclipses. O céu mudará.
E no fim das contas… o que é a Lua?
A Lua é memória. É poesia celeste. É espelho de nossas marés e metáfora de nossas fases. É companheira das noites solitárias e guardiã dos sonhos. Uns a veem como pedra fria e sem vida. Eu a vejo como lenda viva — muda, mas não muda. Sempre ali, observando o teatro dos homens sem jamais interferir.
Então, se cruzar teu caminho uma noite de céu limpo, ergue os olhos e saúda a dama pálida. Porque mesmo os mais céticos, uma vez na vida, já sonharam sob sua luz.
Agora, beba comigo e guarde bem esta história — pois a Lua pode até calar, mas nunca mente.
E seu silêncio… ah, seu silêncio vale mais do que mil pergaminhos.
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HORA DE PROVAR SUA BRAVURA
A nave Argo VII colidiu com destroços em órbita lunar — tu, piloto ferido, estás preso na cápsula auxiliar, com apenas 2% de oxigênio restante. A Lua, colossal e indiferente à tua desgraça, ergue-se diante da escotilha, bela como uma deusa e fria como um túmulo. O sistema de resgate falhou, e agora só há uma escolha: tentar a ejeção manual rumo à superfície… ou sufocar no abraço silencioso do espaço.