CAPÍTULO 16 : A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje, contarei a ti uma história queimada pelo tempo e soprada pelos ventos antigos — uma história que resistiu ao aço das espadas e às marés do esquecimento. Falo da lendária Biblioteca de Alexandria, o mais ambicioso relicário de saber que este mundo já conheceu.
Erguida há mais de dois mil invernos, na cidade de Alexandria, no Egito, essa biblioteca não era apenas um salão de livros — era um templo de sabedoria, um farol para os espíritos famintos por conhecimento, uma âncora para filósofos, astrônomos, matemáticos e poetas. Dizem que seu objetivo era reunir todos os livros do mundo conhecido. Todos, ouve bem. Um desejo tão ousado que parece coisa de arquimago enlouquecido pela sede de saber.
Fundação: Um Sonho Digno de Faraó
Foi sob a batuta de Ptolemeu I, general de Alexandre, o Grande, que o plano tomou forma. Inspirado por seu antigo mestre, o próprio Alexandre, mandou construir esse santuário do saber por volta do século III antes de Cristo. Lá, diz-se, repousavam centenas de milhares de pergaminhos — alguns falam em 400 mil, outros em 700 mil. Mas quem é que conta os grãos de areia do deserto?
A biblioteca não se contentava em esperar por livros. Não, senhor. Todos os navios que atracavam no porto de Alexandria tinham seus rolos e escritos confiscados. As cópias ficavam com os donos. Os originais? Ficavam com a biblioteca. Um gesto ousado, e um tanto insolente, mas eficaz. Sabedoria se conquista, não se pede com delicadeza.
Um Farol de Mentes Brilhantes
Ali caminharam figuras como Eratóstenes, que mediu a circunferência da Terra sem sair do Egito — com bastões, sombras e muita engenhosidade. Aristarco de Samos, por sua vez, ousou dizer que a Terra girava ao redor do Sol, muitos séculos antes de Copérnico ou Galileu. E Hiparco, o astrônomo que quase enxergava estrelas com o coração, usou ali os céus para mapear constelações e prever eclipses.
Era um lugar onde a magia da mente encontrava abrigo, onde se misturavam línguas, ideias, crenças e teorias como um caldeirão borbulhante do saber.
A Queda: Quando o Fogo Engole o Conhecimento
Mas nem os maiores castelos estão a salvo das labaredas do destino. A Biblioteca de Alexandria caiu — ou melhor, caiu várias vezes, pois sua destruição não foi obra de um só golpe, mas de uma sequência de tragédias, como se os deuses, invejosos, quisessem apagar cada centelha ali guardada.
Uns dizem que foi Júlio César, em sua guerra contra os egípcios, que ateou fogo sem querer aos rolos durante o cerco naval. Outros acusam fanáticos religiosos, que viram nos escritos pagãos um perigo ao novo credo. E há ainda quem jure que a última chama foi soprada por ordem dos califas árabes, que preferiram alimentar os banhos públicos com os escritos antigos — uma fogueira que teria durado seis longos meses.
Mas a verdade, meu bom andarilho, é que ninguém sabe ao certo como se apagou a maior tocha do conhecimento do mundo antigo. Só se sabe que foi. E isso já é pesar suficiente.
Curiosidades que Valem um Gole Forte
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A biblioteca não era sozinha: havia o Museion, um tipo de academia anexa, lar de estudiosos, com jardins, salas de conferência, observatórios e talvez até… um santuário.
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Eram usados pergaminhos de papiro, enrolados e guardados em nichos — nada de capas duras ou lombadas alinhadas como hoje.
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Muitos dos manuscritos perdidos jamais foram reescritos. Teorias, histórias, fórmulas e ideias… sumiram como fumaça ao vento. Um lamento que ecoa até os dias de hoje.
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Calcula-se que 90% da literatura da Grécia Antiga se perdeu — muito disso por culpa das chamas de Alexandria.
E Hoje?
Hoje, viajante, há uma nova biblioteca em Alexandria, moderna e altiva, como fênix renascida das cinzas do passado. Mas embora bonita e respeitável, seu espírito ancestral jamais será o mesmo daquele templo de papel e ambição.
Porque a Biblioteca de Alexandria não era feita só de pedra e pergaminhos. Era feita de desejo. De uma fome insaciável por desvendar os mistérios do mundo. E isso, meu amigo, não se arquiteta: se conjura.
Se um dia teus pés cruzarem aquelas areias egípcias, lembra-te de que cada grão pode ter ouvido os sussurros de gênios esquecidos. E se teu coração ainda pulsa com curiosidade… então brindarás comigo, pois acabaste de ouvir a história de uma biblioteca que ousou querer saber tudo.
E quase conseguiu.
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HORA DE PROVAR SUA BRAVURA