CAPÍTULO 26: DIAS DA SEMANA
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje vou te falar não de terras amaldiçoadas ou ilhas traiçoeiras, mas de algo que rege teu tempo, molda teus dias e ainda assim passa despercebido por tantos: os nomes da semana. Sim, os sete pilares que sustentam o ciclo do nosso viver — segunda a domingo, como se fossem soldados de um calendário ancestral, marchando sem descanso desde eras que o pó já cobriu.
Mas por que sete, e não oito ou nove? Por que segunda e não “dois-dias”? E que encantamento foi lançado sobre os povos antigos para que tantos, separados por vastos mares, escolhessem número e ordem parecidos? Ah… prepara tua caneca, pois essa história tem o cheiro do incenso da Babilônia, o aço de Roma, e até a poeira das estrelas.
Quando o Céu Dava Nome aos Dias
Tudo começou quando o homem — inquieto e curioso como sempre — olhou para o alto e notou que alguns astros se moviam diferente do resto. Chamaram-nos de “errantes”, os planetas, pois vagavam pelo céu como viajantes sem pouso. Entre eles, sete se destacavam aos olhos nus: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Sete luminares. Sete senhores do tempo.
Na antiga Babilônia, os magos e sacerdotes olhavam os céus e viam neles mais que pontos brilhantes: viam deuses. E como cada deus tinha seu dia, criaram a semana — sete dias, cada qual consagrado a um desses astros-deuses.
Foi assim que nasceu o embrião da semana que tu conheces, ainda antes de Roma sonhar com seu império ou dos bardos da Germânia afinarem seus cantos de guerra.
Roma e o Martelo do Tempo
Mas o que começou nas planícies da Mesopotâmia foi lapidado no mármore romano. Os filhos de Roma — sempre práticos — tomaram os deuses e os dias para si, como tomaram terras e povos. Assim:
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Dies Solis — o dia do Sol, senhor da luz (que depois viraria o Sunday dos anglos)
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Dies Lunae — o dia da Lua, dama da noite
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Dies Martis — o dia de Marte, deus da guerra
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Dies Mercurii — o dia de Mercúrio, mensageiro veloz
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Dies Jovis — o dia de Júpiter, rei dos deuses
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Dies Veneris — o dia de Vênus, senhora do amor
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Dies Saturni — o dia de Saturno, velho deus do tempo
Cada dia, um tributo a um poder do mundo e dos céus. Mas, como toda boa história, essa também atravessou mares e foi vestida com novos nomes.
Os Bárbaros e a Troca de Roupas Divinas
Quando os povos germânicos adotaram essa contagem dos romanos, não se contentaram em apenas traduzir — trocaram os deuses! Honraram seus próprios, e assim Marte virou Tiw (Tuesday), Mercúrio virou Woden (Wednesday), Júpiter virou Thor (Thursday), e Vênus virou Frigg (Friday). Só o Sol e a Lua permaneceram firmes como o Sol e a Lua.
Mas e por estas bandas, sob o sol do Brasil, onde a língua herdou o português de Portugal, por que temos “segunda-feira”, “terça-feira” e os demais nomes tão diferentes?
A Mão da Igreja e o Silêncio dos Deuses
Foi aí que a Igreja — poderosa e zelosa — decidiu varrer os nomes pagãos dos dias. Nada de Marte, Vênus ou Júpiter! Substituíram-nos por nomes neutros e numerais: segunda-feira, terceira, quarta, e assim por diante. Uma mudança que começou com os monges da Península Ibérica e floresceu no calendário litúrgico.
Mas o domingo e o sábado… ah, esses resistiram.
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Domingo vem do latim Dominica, “dia do Senhor”.
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Sábado, do hebraico Shabbat, o dia de descanso.
Curioso, não? Em meio à contagem impessoal, ainda sobrevivem dois dias com alma e tradição milenar. Como sentinelas velando o começo e o fim do ciclo.
Curiosidades que Valem um Gole
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Na língua inglesa, o sábado ainda é o dia de Saturno: Saturday. Em quase todas as outras línguas românicas, Saturno foi expulso.
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O número sete, usado na semana, também ecoa em lendas e mitos: sete mares, sete colinas de Roma, sete virtudes, sete pecados. Coincidência? Talvez… ou apenas o sussurro dos antigos.
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Em culturas como a dos astecas e dos chineses antigos, os dias também seguiam ritmos próprios — mas nenhum sistema teve o alcance e permanência da semana de sete dias.
- A palavra “feira” tem raízes no latim antigo — feria — termo usado pelos monges e escribas para designar os dias simples e sem grandes celebrações, quando o povo seguia seu labor cotidiano, sem festividades ou honrarias aos santos.
E Assim Giram os Dias…
Os nomes dos dias são como poeira estelar grudada em tua rotina. Passam despercebidos, mas carregam eras de crença, conquista e contemplação. São relíquias de povos que, mesmo mortos, ainda marcam a tua agenda.
Então, da próxima vez que disseres “hoje é sexta-feira”, lembra-te: estás saudando a deusa do amor, ocultamente. Ou, quem sabe, apenas seguindo o compasso de uma dança celeste que começou muito antes de ti — e que continuará muito depois.
Brinda comigo, viajante, por esta história que não se perde no tempo… mas que molda o próprio tempo.
Queres ouvir sobre como os meses ganharam seus nomes também?
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HORA DE PROVAR SUA BRAVURA