CAPÍTULO 14 : A ORIGEM DA ESCRITA
Sente-se, meu querido viajante.
Hoje, as brasas da lareira vão aquecer uma história mais antiga que muitas ruínas, mais poderosa que cem feitiços e tão delicada quanto o primeiro rascunho de um mapa do tesouro. Falo-te, com reverência e admiração, da origem da escrita — essa arte ancestral que deu forma às palavras, deu voz às civilizações e acorrentou o tempo aos pergaminhos do mundo.
Antes de letras, antes de tintas e penas, os homens falavam ao vento e gravavam a memória nas cavernas — com símbolos brutos, riscados com carvão ou sangue, como se pudessem aprisionar a caçada do dia anterior ou agradar os espíritos da floresta. Esses primeiros traços, rabiscados há mais de 30 mil invernos, já mostravam a sede que o homem tinha de eternidade.
Mas a escrita, como hoje a conhecemos, nasceu não nas cavernas, mas nos vales férteis da antiga Mesopotâmia — terras entre rios onde o trigo crescia mais alto que o joelho de um anão e os impérios surgiam e tombavam como castelos de cartas.
Lá, há uns cinco milênios, os sumérios moldaram símbolos em tábuas de argila com o auxílio de estiletes de junco. Era a escrita cuneiforme, nome bonito que só significa “marca em cunha”, mas que carregava a promessa de registrar não só colheitas e impostos… mas também mitos, lendas, leis e a vontade dos deuses.
Curioso, não? A escrita não nasceu para poesia ou para o amor — nasceu da necessidade. Os reis queriam controle, os mercadores queriam contabilidade, e os escribas… ah, os escribas! Esses eram os verdadeiros feiticeiros das palavras, guardiões do saber. Saber ler e escrever era como ter uma chave de ouro que abria os cofres da autoridade e do respeito.
Logo, os egípcios, não querendo ficar atrás dos vizinhos mesopotâmicos, deram forma à sua própria alquimia textual: os hieróglifos. Palavras desenhadas como deuses, bichos e estrelas. E quem ousasse decifrá-los sem a bênção do faraó, era considerado ladrão de segredos sagrados.
Na sequência do tempo, os fenícios — grandes navegadores e comerciantes — decidiram simplificar a coisa. Criaram um alfabeto mais direto, menos floreado, que navegou junto com suas embarcações pelos mares do conhecimento, chegando à Grécia. E os gregos, espertos como sátiros, pegaram o sistema emprestado e lapidaram-no até torná-lo um dos pilares da escrita ocidental. Da Grécia para Roma, e de Roma para os quatro cantos do mundo conhecido.
Mas há magias que o tempo esquece…
Na distante China, há mais de 3 mil invernos, surgia também a escrita, entalhada primeiro em ossos e carapaças de tartarugas. Usavam-na para consultar oráculos e deuses antigos, e dali brotou um sistema complexo, ainda vivo até hoje — sinal de que certas palavras não apenas resistem: elas desafiam a morte.
Na Mesoamérica, os maias criaram seu próprio códice de glifos, com símbolos que dançavam sobre papel de casca de árvore, revelando calendários, profecias e lendas sobre deuses que devoravam o Sol. Ainda hoje, muitos desses escritos são indecifráveis — talvez guardem segredos que só a Lua compreende.
E aqui vai um segredo só dos velhos sábios da estrada: mesmo hoje, cada vez que escreves teu nome ou rabiscas um bilhete, tu invocas a sombra de mil civilizações. A pena pode ser nova, a tinta moderna… mas a alma da escrita é ancestral.
Curiosidades para guardar no alforje:
-
O primeiro contrato escrito conhecido tem mais de 4.000 anos e fala… de cerveja! Isso mesmo. Um acordo sumério sobre entrega de cevada fermentada.
-
Os egípcios chamavam os escribas de “os filhos de Thoth”, o deus da sabedoria e da lua.
-
A palavra “alfabeto” vem da união das duas primeiras letras do alfabeto grego: alfa e beta.
-
Alguns sistemas de escrita antigos eram lidos de cima para baixo, outros da direita para a esquerda. E ainda hoje há línguas que fazem isso — como o árabe e o hebraico.
-
A escrita pode ter salvo a civilização mais de uma vez — guardando leis, registrando curas, imortalizando paixões e prevenindo guerras.
Então, da próxima vez que segurares uma pena, um carvão ou até mesmo uma máquina desses tempos modernos, lembra-te: estás invocando o espírito de antigos escribas, desenhando feitiços silenciosos com símbolos que cruzaram desertos, mares e eras.
E se quiseres saber mais… bom, pede outra caneca e fica mais um pouco. Há sempre outra história espreitando por entre as sombras dos pergaminhos.
Viajante ! Você esta no Capítulo 14 do nosso Grimório, caso queira voltar ao capítulo 1 vá por essa direção AQUI
HORA DE PROVAR SUA BRAVURA