CAPÍTULO 3 – A DOMESTICAÇÃO DOS GATOS
Acomode-se, nobre viajante.
Hoje, a Taverna abre seus pergaminhos para contar a origem de uma criatura silenciosa, de passos leves e olhos que enxergam além do véu da noite. Não é fera nem serva, mas algo entre os dois.
Falo dos gatos — companheiros antigos, mas nunca submissos.
Não foram caçados nem acorrentados. Foram eles que se aproximaram dos humanos… e, por vontade própria, resolveram ficar.
Ficha da Domesticação Felina
Primeiro pacto selado: Há cerca de 10.00 invernos
Terras de origem: Crescente Fértil Oriente Médio — onde os rios serpenteiam por entre as areias
Ancestral direto: Felis lybica, o gato-selvagem do deserto
Motivo do encontro: Rataria em fartura, abrigo seguro e um silêncio que os dois compreendiam
Tipo de aliança: Espontânea — uma convivência, não uma servidão
Quando o Homem Plantou, o Gato Acordou
Na alvorada das primeiras vilas, quando o homem deixou de andar errante e passou a cultivar a terra, vieram os ratos. E com os ratos, vieram olhos que brilhavam na escuridão.
O gato-selvagem, das terras quentes e poeirentas, farejou os armazéns e os celeiros. Encontrou alimento e um abrigo seco. Não pediu permissão. Simplesmente veio — e os humanos, vendo seus grãos protegidos, o deixaram ficar.
Não houve chicote, nem coleira. Houve apenas uma troca silenciosa: proteção por liberdade.
No Egito, um Gato Virou Deusa
Lá onde o Nilo se arrasta como serpente entre os desertos, os gatos foram além da carne e do osso. Tornaram-se sagrados.
Bastet, deusa de corpo humano e cabeça felina, era guardiã dos lares, das mães e das danças. Os gatos, sob sua bênção, andavam livres nos templos e nas casas. Quando morriam, eram pranteados como reis.
Curiosidade da Taverna: Arqueólogos — esses escribas do tempo — já encontraram necrópoles inteiras dedicadas a gatos, com milhares de corpos mumificados, envoltos em linho e mistério.
Do Mar às Montanhas — A Expansão dos Bigodes
Os navios que cruzavam os mares levavam cargas, homens… e gatos. Caçadores silenciosos que limpavam os porões das embarcações.
Chegaram à Grécia, às terras do Império Romano, e por fim aos castelos da Europa medieval. Lá, porém, as sombras se alongaram.
Durante os séculos escuros, muitos passaram a ver os gatos como servos das bruxas, companheiros do mal. Foram perseguidos e mortos, e com eles se foram os guardiões dos grãos. Os ratos voltaram, e com os ratos, a peste — como se a natureza reclamasse a injustiça.
Mas o gato, paciente como o tempo, aguardou. E um dia, voltou a caminhar entre os humanos.
O Que Contam os Sábios dos Dias de Hoje
Os estudiosos — nossos magos modernos, vestidos de jaleco — dizem que o gato doméstico ainda guarda a alma do selvagem. Vive entre nós, mas jamais nos pertence.
Miados, dizem eles, são sons moldados só para falar conosco. Um idioma que não existe entre os da sua espécie. Uma ponte de sons e olhares.
Seus olhos ainda caçam, suas patas ainda espreitam, e seu coração, mesmo quando ronrona, jamais se entrega por completo.
O Gato e o Homem — Uma Aliança Antiga
O cão se fez servo. O gato, aliado.
Anda entre os livros, sobre os muros, por entre sonhos e sombras. E quando se deita no seu colo, não é por ordem — é por escolha.
Ficha Final – O Gato Doméstico
Nome científico: Felis catus
Domesticação: Parcial, voluntária, milenar
Natureza: Livre, caçadora, observadora
Presença: Nas casas, nos templos, nos contos…
E assim termina o conto de uma criatura que jamais se curvou, mas ainda assim escolheu andar ao nosso lado.
Próxima vez que cruzar com um gato, trate-o com respeito. Ele é antigo. Ele lembra de coisas que o homem já esqueceu.
Viajante ! Você esta no Capítulo 3 do nosso Grimório, caso queira voltar ao capítulo 1 vá por essa direção AQUI
HORA DE PROVAR SUA BRAVURA
Você acabou sendo pego pela Peste por falta de gatos na Europa.
Jogue o D20 e Tire sua sorte……
Pingback: A GRANDE GALERIA DA TAVERNA -